Wednesday, 12 November 2025

A IMPORTÂNCIA DO "GUARDADOR DE REBANHOS" PARA A EPIGÊNESE DO MANIFESTO PEDAGÓGICO DA EDUCAÇÃO | ABRACADABRA BIGBANG


Uma leitura neurofilosófica do “Guardador de Rebanhos” de Fernando Pessoa
17steps@principiahumanitatis.org

Resumo

O presente artigo propõe uma reflexão sobre a interligação entre neuroeducação, gestão, crescimento  e filosofia poética, tomando como ponto de partida o poema O Guardador de Rebanhos, de Fernando Pessoa (heterónimo Alberto Caeiro). A partir de uma leitura simbólica e interdisciplinar, analisa-se a importância do conhecimento da fisiologia da mente humana para a sustentabilidade das estratégias de gestão social, económica, científica, ambiental e algorítmica. Argumenta-se que a educação deve promover a integração entre o Ser (the being) e o Saber (the knowing), sustentando uma pedagogia da unicidade e da coerência individual e social.

Palavras-chave: Neuroeducação; Aprender para a Paz (bondade), Inovação (genialidade) e Empreendedorismo (responsabilidade) ; Learning4PIE; Fernando Pessoa; Os ODS e a arte dos 17Steps4PIE; Inteligência Artificial


Abstract

This article proposes a reflection on the interconnection between neuroeducation, management, growth, and poetic philosophy, taking as its starting point Fernando Pessoa’s poem The Keeper of Sheep (under the heteronym Alberto Caeiro). Through a symbolic and interdisciplinary approach, it discusses the importance of understanding the physiology of the human mind for the sustainability of social, economic, scientific, environmental, and algorithmic management strategies. It argues that education should promote the integration between Being and Knowing, supporting a pedagogy of unity, individual coherence, and social responsibility.

Keywords: Neuroeducation; Learning for Peace (kindness), For Innovation (ingenuity), and for Entrepreneurship (responsibility); Fernando Pessoa; SDGs and Thea art of The 17Steps4PIE; Artificial Intelligence


1. Introdução

O Projeto “Programar4PIE o Cérebro Mundo” tem como objetivo dotar o aluno de estratégias de gestão com impacto na formação do seu sentido de cidadania individual e social, levando-o a percorrer a geologia da neuroanatomia evolutiva do comportamento humano. Este percurso baseia-se na perspetiva do modelo dos Três Cérebros, proposto por Paul MacLean (1970), como recurso pedagógico de aprendizagem sobre a geografia da localização, distribuição e inter-relação dos fenómenos do comportamento humano. Assim, pretende-se conduzir o aluno a identificar três regiões cerebrais determinantes para o autoconhecimento e para a compreensão do outro, a saber:

i) Cérebro Reptiliano ou Cérebro Primitivo (estou seguro?);
ii) Cérebro Emocional ou Cérebro Límbico (sou amado?);
iii) Cérebro Racional ou Cérebro Neocórtex (o que aprendi?).

Este modelo fornece uma base conceptual para a integração das dimensões biológica, emocional e racional no processo educativo, constituindo um alicerce para uma pedagogia da paz, da inovação, do emprendedorismo, da empatia e da reflexão crítica.

Neste contexto, a pedagogia contemporânea enfrenta o desafio de articular o conhecimento científico sobre o cérebro humano com a dimensão ética e poética da paz, da inovação e do empreendedorismo do ser. Em O Guardador de Rebanhos, Fernando Pessoa, através do heterónimo Alberto Caeiro, propõe uma sabedoria da simplicidade e da presença, onde o pensar e o sentir se fundem numa perceção natural do mundo. Esta visão oferece uma metáfora fértil da estratificação evolutiva do cérebro humano, permitindo a construção de um manifesto pedagógico para o crescimento — um manifesto pedagógico que compreenda a mente humana como ecossistema dinâmico, em constante transformação.

2. O olhar poético como via epistemológica


Pessoa escreve:

“Nem todos os dias são de sol,
e a chuva, quando escasseia, acaba por ser desejada.
Por isso, acolho a infelicidade com a mesma naturalidade com que recebo a felicidade,
como quem não estranha
que existam montanhas e planícies,
rochedos e ervas...”

A poesia de Caeiro reflete uma aceitação serena da dualidade da existência — chuva e sol, felicidade e infelicidade, montanhas e planícies — que pode ser transposta para o campo educativo. O aluno, ao compreender a diversidade do mundo natural, aprende a reconhecer a complexidade das suas próprias emoções e estados mentais, desenvolvendo uma consciência resiliente e empática como parte da sua própria natureza humana.

3. A neuroanatomia geológica do ser


Ao ser conduzido a explorar a “neuroanatomia geológica do cérebro humano”, o aluno é convidado a reconhecer que a sua morfologia cognitiva resulta do tipo de cultura que cultiva no solo do ecossistema da sua mente. A aprendizagem transforma-se, assim, num processo de construção identitária e ecológica, em que a realidade criada é consequência direta da forma como se gerem os pensamentos e se transformam em atitudes positivas ou negativas.

Neste contexto, o aluno é simultaneamente autor e ator no palco da realidade, exercendo um papel ativo na criação da sua própria experiência de vida. Tal visão converge com os princípios da arte dos 17 Passos para a Paz, Inovação e Empreendedorismo em 17 passos para o desenvolvimento e sustentabilidade, nomeadamente no incentivo à bondade, à genialidade criativa, e à responsabilidade — I Am an Agent 4 Peace, I Am an Agent 4 Innovation e I Am an Agent 4 Entrepreneurship — como metáforas de aprendizagem integral e de cidadania da humanidade.


4. Pessoa e a educação da sensorialidade


“Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho são os meus pensamentos,
e os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos,
e com as mãos e os pés,
e com o nariz e a boca...”

Nesta perspetiva, pensar é uma forma de sentir e de viver corporalmente o mundo. Tal princípio encontra correspondência nas abordagens da neuroeducação contemporânea, que reconhecem o papel do corpo e das emoções na formação cognitiva e moral. O poema de Caeiro legitima, poeticamente, a integração entre razão e sensibilidade como fundamento epistemológico do crescimento humano.


5. Conclusão

O conhecimento da fisiologia da mente humana é essencial para a sustentabilidade das práticas de gestão e para o desenvolvimento equilibrado das sociedades. Integrar este conhecimento como manifesto pedagógico da educação nacional constitui um investimento na literacia da integridade cognitiva das futuras gerações.

Aprender a ser e a saber, em coerência com o próprio propósito de vida, é uma forma de ressonância profunda entre o Ser e o Saber. Esta articulação promove uma educação centrada na unicidade da individualidade, da criatividade e da responsabilidade, consolidando um paradigma educativo em que o atributo humano se reconhece como parte do ecossistema do corpo da mente e do corpo da humanidade.

Referências
MacLean, P. D. (1970). The Triune Brain in Evolution: Role in Paleocerebral Functions. New York: Plenum Press.
Pessoa, F. (2001). Poesia dos Outros Eus – O Guardador de Rebanhos (Ed. Richard Zenith). Lisboa: Assírio & Alvim.