M.Reeves e J.Fuller falam da imaginação como um dos ingredientes mais mal compreendidos, mas crucial para o sucesso de uma organização, na medida em que a-imaginação é o atributo que faz a diferença entre mudanças incrementais e tipos de mudanças fundamentais e de alteração de paradigma, essenciais para o sucesso, sobretudo em períodos de crise. Ou seja, as organizações de sucesso são feitas por wizards capazes de "fazer-magia" e transformar o-impossível, em possível. No espectro oposto, temos os muggles, conceito criado por J.K.Rolling; muggles " não têm a capacidade de fazer magia". Luís de Camões foi wizard . Steve Jobs foi wizard. Augusta Ada King foi wizard. Nelson Mandela foi wizard.
A diferença entre wizards e muggles pertence ao foro do mindset (da mentalidade): wizards utilizam o atributo da imaginação para criar/transformar valor para a sociedade; muggles não acreditam na imaginação como instrumento de valor transformador e normalmente identificam-se como followers e subscribers das ideias dos-outros, preferindo "copy-paste" a "criar-ideias-originais". Quando Steve Jobs afirmava: " a inovação distingue os líderes dos seguidores" referia-se precisamente à qualidade " ser-wizard ": a genialidade de transformar o impossível, em possível .
A imaginação é efetivamente um atributo humano que sempre acompanhou a evolução das culturas humanas, na verdade, a beleza dos artefactos arqueológicos revelam a capacidade humana de transcender a utilização da-coisa, para criar sentimento de valor criativo diferenciador. Ainda hoje, os artefactos dos nossos antepassados são guardados e expostos em museus, com o carinho de quem reconhece o valor intemporal da-imaginação-humana como atributo de progresso.
Mas, donde surgiu a capacidade humana de-imaginar? António Damásio (2017) faz referência a vários factores, entre os quais o atributo - inteligência criativa, que define como: " processo de enriquecimento das mentes através dos sentimentos e da subjetividade, da memória baseada em imagens, e da capacidade de ordenar as imagens em narrativas. Damásio fortalece esta ideia ao referir que " (...) foi graças à inteligência criativa que as imagens mentais e os comportamentos vieram a ser combinados intencionalmente de modo a desenvolver soluções inovadoras para os problemas detetados pelos seres humanos e a edificar novos mundos para as oportunidades imaginadas pela humanidade".
Luís de Camões, no primeiro canto dos Lusíadas, apresenta uma explicação muito clara sobre o processo-mental-da-imaginação, como processo propulsor da epopeia dos descobrimento, a referir:
i. Primeiro Passo: "ir por mares nunca de antes navegados", i.e. desconstruir modelos mentais rígidos e fazer-login na arquitetura mental-imaginativa para percorrer caminhos diferentes e novos ;ii. Segundo Passo: "passar para além da Traprobana ... mais do que prometi a a força humana", i.e. focar a atenção no plano da hipótese mental "se fosse possível", ao invés do plano mental "o que é" ;
iii) Terceiro Passo: "Entre gente remota, edificar Novo Reino", i.e. com as ideias imaginadas transformar o conhecimento instituído partilhando-o com os-outros e assim, alimentar e enriquecer o processo-de-imaginação-coletiva.
Infere-se, deste modo, que a questão contemporânea do desenvolvimento da humanidade não se prende com a complexidade da escolha shakespeariana to be?, or not to be?; mas, com a certeza camoniana to-be-imaginative: transformar paradigmas e contribuir para o progresso da humanidade.