adelaide. tapeteira de arraiolos. adelaide que conheceu o ponto de arraiolos quando ainda era menina. menina de olhos cor azul-alentejo. cor azul alentejo que borda as bainhas das casas do alentejo. olhos azuis-cor-alentejo que se esforçavam por acertar com a linha na agulha. ai chega, chega, chega, chega, chega ó minha agulha, afasta, afasta, afasta, afasta o meu dedal. canção de lisboa que a adelaide cantava para chamar a agulha. afastada era a cidade de lisboa donde vinham os netos e as netas da aldeia a quem a adelaide ensinava o ponto de arraiolos durante as férias do verão. quadro de sala de aula feito de tela de juta lisa deitada no chão. chão frio abençoado. adelaide avó e professora. alunos atentos ao desenho e à letra do ponto de arraiolos. desenho que ganhava vida com o ponto. ponto que unia a forma. forma que nascia da colaboração de cada ponto. a humanidade tem de aprender a bordar para saber unir a forma da diferença - repetia a adelaide atenta ao trabalho de cada um dos seus alunos. alunos que ao bordar a linguagem do ponto de arraiolos eram capazes de imaginar formas de cores diferentes a colaborar no mundo. ponto de arraiolos que elevava a tapeçaria da linguagem-diferença-mundo a património de união humanidade. tela completa. o mundo pertence a quem o sabe unir - palavras de avó bordadas no coração de quem ouvia. alunos atentos admiravam a obra conseguida. obra em tapeçaria de ponto de arraiolos que a avó adelaide mostrava sempre que alguém lhe dizia não conseguir colocar fé nas novas gerações. que se estime o património da sabedoria do ponto de arraiolos. que se estime o património de fé nas novas gerações.