Tuesday, 7 October 2025

O DIA EM QUE PORTUGAL CAIU À RAZÃO DA LVSITÂNIA | RETHINKING SUSTAINABLE GOALS

SÉRIE - RETHINKING SUSTAINABLE DEVELOPMENT GOALS
time-reading-barometer | 2 minutes 47 seconds | 361 words |  reshaped with love



17steps@principiahumanitatis.org


a lvsitânia era uma mulher-velha.  o seu  ventre outrora planície fértil e quente era agora um relevo seco e frio incapaz de florir.  o seu rosto outrora  tela imaculada,  escrevia contos  da terra que ela nunca tinha contado a ninguém.   os  pêlos  negros e grossos  do  queixo lembravam-lhe das-coisas da vida que tinham ficado por dizer.  os seus seios, outrora firmes e redondos, eram agora pêndulos sem norte. o seu cabelo, outrora forte,  tinha perdido a abundância e na escassez  mostrava uma calvície acentuada. calvície que a lvsitânia disfarçava com uma peruca de cabelo farto. peruca que não era igual ao cabelo que  tinha mas que para o efeito servia. a-morte não assustava a lvsitânia. o silêncio do esquecimento assustava a lvsitânia. assim  todos os dias  a lvsitânia  repetia as-coisas como quem repete uma oração de proteção e vestia-se bem arranjada. a lvsitânia  não se arranjava por vaidade, mas porque não queria ser esquecida pelo seu portugal como mulher-feia. então repetia:  bonita e arranjada. bonita e arranjada. bonita e arranjada. portugal tinha sido o único amor da lvsitânia.  a lvsitânia ainda se recordava  do dia em que  casou com portugal  e do dia em que  portugal a tinha deixado para cair aos braços de outra mulher de nome  fama-europa.  a lvsitânia culpava-se pelo seu portugal a ter deixado e prometeu até ao último dia da sua vida andar sempre  bonita e  arranjada para  recuperar o amor de portugal por ela. bonita e arranjada. bonita e arranjada. bonita e arranjada. as conversas  dentro da cabeça da lvsitânia traziam-lhe sempre muitas lágrimas de culpa, porque não compreendia como o seu  portugal a tinha deixado para acreditar na falsa beleza da fama-europa.  lágrimas que caíam sobre os seus sapatos de verniz verde azeitona. sapatos de verniz verde cor da azeitona galega  do alentejo que a lvsitânia  tinha comprado  no dia que o seu portugal a tinha deixado.  sapatos de verniz verde cor de azeitona galega do alentejo que a lvsitânia agradecia a nossa senhora de fátima por não lhe magoarem os joanetes. sapatos de verniz verde cor  da azeitona galega do alentejo  que as lágrimas da lvsitânia com o tempo tinham  transformado em sapatos de esmeralda verde-esperança. um dia aconteceu a lvsitânia esquecer-se de acordar. no seu testamento, a lvsitânia deixou, ao seu portugal, os seus sapatos de esmeralda verde-esperança.  portugal, logo ofereceu os sapatos de esmeralda verde-esperança à  mulher fama-europa. a fama-europa era uma mulher muito vaidosa e muito ambiciosa, logo  calçou os sapatos esmeralda para ficar com as riquezas da lvsitânia.  sapatos esmeralda verdes-esperança que fizeram portugal cair à razão da lvsitânia.  portugal, devolveu os sapatos  esmeralda verde-esperança às gentes  da lvsitânia, porque milhor era merecê-los sem os ter, que possuí-los sem os merecer[1].   

[1] Luís de Camões, Os Lusíadas.

#ODS1+ #ODS2 + #ODS3 + #ODS4 + #ODS5 + #ODS6 + #ODS7 + #ODS8 + #ODS9 #ODS10 + #ODS11 + #ODS12 + #ODS13 + #ODS14 + #ODS15 + #ODS16 + #ODS17 OBRIGADA, À MULHER VELHA DE NOME LVSITÂNIA QUE FEZ CAIR PORTUGAL À RAZÃO.