SÉRIE - RETHINKING SUSTAINABLE DEVELOPMENT GOALS
time-reading-barometer | 2 minutes 47 seconds | 361 words | reshaped with love
a lvsitânia era uma mulher-velha. o seu ventre outrora planície fértil e quente era agora um relevo seco e frio incapaz de florir. o seu rosto outrora tela imaculada, escrevia contos da terra que ela nunca tinha contado a ninguém. os pêlos negros e grossos do queixo lembravam-lhe das-coisas da vida que tinham ficado por dizer. os seus seios, outrora firmes e redondos, eram agora pêndulos sem norte. o seu cabelo, outrora forte, tinha perdido a abundância e na escassez mostrava uma calvície acentuada. calvície que a lvsitânia disfarçava com uma peruca de cabelo farto. peruca que não era igual ao cabelo que tinha mas que para o efeito servia. a-morte não assustava a lvsitânia. o silêncio do esquecimento assustava a lvsitânia. assim todos os dias a lvsitânia repetia as-coisas como quem repete uma oração de proteção e vestia-se bem arranjada. a lvsitânia não se arranjava por vaidade, mas porque não queria ser esquecida pelo seu portugal como mulher-feia. então repetia: bonita e arranjada. bonita e arranjada. bonita e arranjada. portugal tinha sido o único amor da lvsitânia. a lvsitânia ainda se recordava do dia em que casou com portugal e do dia em que portugal a tinha deixado para cair aos braços de outra mulher de nome fama-europa. a lvsitânia culpava-se pelo seu portugal a ter deixado e prometeu até ao último dia da sua vida andar sempre bonita e arranjada para recuperar o amor de portugal por ela. bonita e arranjada. bonita e arranjada. bonita e arranjada. as conversas dentro da cabeça da lvsitânia traziam-lhe sempre muitas lágrimas de culpa, porque não compreendia como o seu portugal a tinha deixado para acreditar na falsa beleza da fama-europa. lágrimas que caíam sobre os seus sapatos de verniz verde azeitona. sapatos de verniz verde cor da azeitona galega do alentejo que a lvsitânia tinha comprado no dia que o seu portugal a tinha deixado. sapatos de verniz verde cor de azeitona galega do alentejo que a lvsitânia agradecia a nossa senhora de fátima por não lhe magoarem os joanetes. sapatos de verniz verde cor da azeitona galega do alentejo que as lágrimas da lvsitânia com o tempo tinham transformado em sapatos de esmeralda verde-esperança. um dia aconteceu a lvsitânia esquecer-se de acordar. no seu testamento, a lvsitânia deixou, ao seu portugal, os seus sapatos de esmeralda verde-esperança. portugal, logo ofereceu os sapatos de esmeralda verde-esperança à mulher fama-europa. a fama-europa era uma mulher muito vaidosa e muito ambiciosa, logo calçou os sapatos esmeralda para ficar com as riquezas da lvsitânia. sapatos esmeralda verdes-esperança que fizeram portugal cair à razão da lvsitânia. portugal, devolveu os sapatos esmeralda verde-esperança às gentes da lvsitânia, porque milhor era merecê-los sem os ter, que possuí-los sem os merecer[1].
[1] Luís de Camões, Os Lusíadas.
#ODS1+ #ODS2 + #ODS3 + #ODS4 + #ODS5 + #ODS6 + #ODS7 + #ODS8 + #ODS9 #ODS10 + #ODS11 + #ODS12 + #ODS13 + #ODS14 + #ODS15 + #ODS16 + #ODS17 OBRIGADA, À MULHER VELHA DE NOME LVSITÂNIA QUE FEZ CAIR PORTUGAL À RAZÃO.