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Projeto: Iconocrafia17Steps | Autor: #MuHubASP |
updated 16.Jan.2025
Os resultados do TIMSS 2023 - testes que avaliam o desempenho de alunos do 4.º e 8.º anos em Matemática e Ciências, colocaram Portugal em último lugar entre 15 países europeus participantes. O relatório Escola Segura 22/23 regista um aumento de 9% em ocorrências criminais nas escolas com predominância nas ofensas corporais, injúrias e ameaças. Segundo o Relatório anual de Segurança Interna de 2022 (RASI2022), a delinquência juvenil agravou-se no pós-pandemia, tendo aumentado 50,6% em relação a 2021. Os números da delinquência juvenil de 2023 mostram um aumento de 8,6% relativamente aos valores já elevadíssimos de 2022. A taxa de abandono escolar precoce aumentou para 8% em 2023, tendo registado o maior valor desde 2017.
[pausa de irritação]
No projeto 17Steps4PIE, sempre que existe uma ferida humanidade difícil de curar, seguimos a arte transdisciplinar da coreografia de Pina Baush. Seguir Pina Baush não é ser copy-paste de Pina Baush, mas é deixarmo-nos guiar pela sua voz quando gritava: "DANCEM, DANCEM OU ESTAMOS PERDIDOS!" Do mesmo modo, a análise dos valores negros das estatísticas, sobre a evolução da educação em Portugal, não pode levar à rigidez do corpo do sistema de educação português, mas! à construção de uma coreografia transdisciplinar colaborativa, capaz de descobrir uma nova linguagem do ser que permita o sistema de educação se encontrar na melhor versão de si.
[pausa para dançar]
Pina Bausch, foi uma coreógrafa extraordinária. A forma como utilizava a-dança como recurso pedagógico transdisciplinar para ensinar a linguagem simbólica dos passos-humanidade, e a forma colaborativa como suscitava o protagonismo intelectual dos seus alunos na investigação do tema em construção-coreografia; provava como a transdisciplinaridade era um novo tipo de cognição que não se podia separar do modo como o aluno se relacionava com o corpo e a mente do objeto do ser-conhecer. Pina Baush, elevou os fundamentos curriculares e pedagógicos das suas peças a instrumentos de cognição habilitados a apropriar o-aluno de um novo código linguístico, feito de símbolos com valor renovado do saber (the knowing), do sentir (the feeling), do pensar (the thinking) e do fazer (the doing) .
Deste modo, na sua pedagogia, Pina Bausch ensinava a importância do aluno estar bem dotado de competências-técnicas compreendidas como essenciais, mas também da importância do aluno aprender a nova arte da simbologia da cultura humana, entendida como a arte transdisciplinar de conduzir bem o-saber para transformar a coreografia humanidade em melhor-humanidade.
[pausa para dançar]
À luz da coreografia de Pina Baush, transcender um problema é elevar os degraus da compreensão humana das combinações simbólicas mais simples para o entendimento das combinações simbólicas mais complexas, através da linguagem fluída do corpo expressa em sequência-coreografia. Neste sentido, as combinações da coreografia exigem sempre movimento, i.e. ímpeto, face a um determinado referencial a transcender.
Efetivamente, Pina Baush, pretendia que a compreensão transcendente do aluno fosse a da produção de valor transformador para o bem-comum, expresso em movimento (em oposição à inércia-repouso); ou seja, pretendia que a compreensão transcendente do aluno fosse a aplicação da sua vontade e determinação individual como força motriz de cognição transdisciplinar capaz de transmutar um determinado estado de inércia-insustentabilidade, nascido do espelho das feridas do corpo e da mente colectiva do mundo; na descoberta da coreografia de novas verdades do conhecer para produzir Paz (I Am an Agency4PEACE), Inovação (I Am an Agency4INGENUITY) e Empreendedorismo (I Am an Agency4ENTREPRENEURSHIP).
[pausa para dançar] [repetir o problema com novo espírito]
Os resultados do TIMSS 2023 - testes que avaliam o desempenho de alunos do 4.º e 8.º anos em Matemática e Ciências, colocaram Portugal em último lugar entre 15 países europeus participantes. O relatório Escola Segura 22/23 regista um aumento de 9% em ocorrências criminais nas escolas com predominância nas ofensas corporais, injúrias e ameaças. Segundo o Relatório anual de Segurança Interna de 2022 (RASI2022), a delinquência juvenil agravou-se no pós-pandemia, tendo aumentado 50,6% em relação a 2021. Os números da delinquência juvenil de 2023 mostram um aumento de 8,6% relativamente aos valores já elevadíssimos de 2022. A taxa de abandono escolar precoce aumentou para 8% em 2023, tendo registado o maior valor desde 2017.
[pausa para reconhecer a queda do velho paradigma de escola, empresa e de família]
Muitas vezes, ao falar sobre a importância da transdisciplinaridade e da importância de colocar o aluno no centro da transformação da aprendizagem e da produção do conhecimento, os professores, diretores de escola e os pais classificam esta minha visão de idealista e romântica, portanto, impossível de alcançar. No entanto, do mesmo modo, tenho verificado que esta rigidez de pensamento é muito semelhante à visão do paradigma de gestão de survival-thinking, i.e. o paradigma de controlar para sobreviver, adotado por estilos de liderança rígidos incapazes de construir uma visão colaborativa de longo-prazo, incapazes de reconhecer a diferença entre o que pode ser controlado, o que não pode ser controlado, o que está fora do alcance de influência e aquilo com o que se tem de colaborar.
Na verdade, existe no sistema de ensino português uma visão fragmentada entre a-entidade-escola que forma alunos, a-entidade-empresa que emprega os alunos, a-entidade-família que produz alunos, o que tem provocado um certo desconforto entre a utilidade do que é ensinado, o que são as necessidades presentes e futuras do mercado de trabalho e qual a utilidade da educação das famílias , como se o ato de aprender pertencesse em exclusividade à escola; o ato de trabalhar pertencesse em exclusividade à entidade empresa e o acto de educar pertencesse em exclusividade às famílias, sendo que, tanto a-escola, como a-empresa, como a-família são ecossistemas de contínua aprendizagem e aplicação do esforço individual na produção de conhecimento para transformar a sociedade em melhor sociedade.
A propósito deste tema, há tempos, fui convidada, em nome do projeto que represento, a intervir numas jornadas de formação dirigidas a professores. Por lapso (meu) troquei os dias, e por um gesto de elevada amabilidade, e compreensão, da pessoa a cargo da organização, consegui fazer a minha apresentação no dia seguinte. Sou distraída, confesso, condição que reconheço aproximar-me mais da classificação ser-aluno, do que da classificação ser-professor e/ou ser mãe , pois embora a distração possa assumir na anatomia da gramática formal da cognição da aprendizagem, a patologia do transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), pessoalmente, e dada a minha formação em Gestão, em que os melhores líderes padecem todos de TDAH, prefiro considerar que padeço de um imensurável superavit de fé na imaginação de melhor mundo.
Assim, nestas jornadas tentei apresentar a ideia do velho paradigma d’escola, combinando-a com a ideia do velho paradigma d’empresa e com a ideia do velho paradigma de família, provocando a necessidade da transdisciplinaridade para o derrubar de dogmas e conduzir à descoberta de novo conhecimento. Como recurso pedagógico recorri a uma linguagem que particularmente me fascina – La parole des Oiseaux – uma linguagem mágica utilizada pelos alquimistas para codificar o conhecimento que não queriam que caísse nas mãos erradas. Poderia ter optado por um discurso consubstanciado em teorias académicas várias, mas preferi a magia. Não acreditar na magia é o mesmo que comer morangos de estufa sem sabor a primavera, ou comer comida sem pitada de sal ou comer uvas sem grainha, sobretudo! é não acreditar na capacidade dos alunos em transformar o mundo em melhor mundo. E eu acredito, porque no decurso da implementação do projeto 17Steps4PIE (Pi=PIE) testemunhei a magia dos alunos a iluminar o acontecer melhor-mundo.
Neste momento devem estar perdidos. Peço desculpa. Outro dos meus defeitos é entusiasmar-me quando falo de magia, algo que estou certa constituir uma perturbação de aprendizagem qualquer, no entanto, o entusiasmo genuíno pela magia constitui uma outra incapacidade que me aproxima mais da classificação ser-aluno, do que da classificação ser-professor e/ou ser mãe.
Voltando atrás à história dos alquimistas para explicar a essência da magia da linguagem dos pássaros. Os alquimistas codificavam as palavras que utilizavam. Por exemplo, em francês existem as palavras savoir e connaître que significam respetivamente, saber e conhecer. Porém, os alquimistas quando se referiam à palavra savoir, referiam-se ao conhecimento que vem dos cinco sentidos, isto é, ao conhecimento descrito pelos cinco sentidos e que tem origem no mundo exterior ao ser: Savoir = “Sa+Voir” (ou "voir ça" = ver isto = saber = sabe de sabor ); distinto de “CONNAÎTRE”=“NAÎTRE+CON” (nascer com = conhecer = cunho do ser), ou seja, os alquimistas distinguiam o conhecimento que nasce com a-pessoa (conhecimento = cunho-do-ser), do conhecimento que provém dos canais sensoriais trazidos pelas impressões exteriores (saber = sabe de sabor).
Ao recorrer à Linguagem dos Pássaros procedi à dissecção anatómica das palavras escola, aluno, empresa e família como se segue:
ESCOLA= ÉS+COLA, isto é, o velho paradigma de-escola assenta na fórmula: “conhecimento que é colado”, onde “ALUNO = NULA+O”, i.e., é “o-nula. Ou seja, o velho paradigma de escola resulta de um conhecimento que é colado em Ctrl+ALT+Copy+Paste e que transforma o aluno em “o-nula” porque se toma o aluno como um ser incapaz de criar conhecimento.
“EMPRESA” = “EM+PRESA” = “PRESA EM”, isto é, o velho paradigma de empresa assenta na formula predatória de reduzir a-pessoa ao estado: “presa em”, isto é, presa à repetição da mesma tarefa dia, após dia, onde “EMPREGADO”= “PREGADO EM”, ou seja, a-pessoa é pregada a uma função donde sente que não pode sair, porque desenvolve o sentimento só fiz isto durante toda a minha vida, logo, não sei fazer mais nada.
"FAMÍLIA" = "FAMA+LIA", i.e., o velho paradigma de família isola o aluno à ilha da hereditariedade do nome que carrega, repetindo o fado da linha do destino dos mesmos erros e do trilhar do mesmo caminho. Note-se que a fama é leitura que se faz de alguém, consubstanciada em julgamentos e preconceitos falsos como: se és filho de pais pobres vais ser pobre e ter filhos que vão ser pobres.
Porque é importante falar sobre o velho paradigma de escola, sobre o velho paradigma de empresa e sobre o velho paradigma de família ao analisarmos as más estatísticas da educação? Porque as estatísticas provam que os velhos-paradigmas deixaram de funcionar na medida de que são incapazes de se adaptar à crescente complexidade do ambiente atual. Hoje, vivemos num mundo de maior conectividade, de maior imprevisibilidade e de maior progresso.
Charles Handy, caracteriza muito bem os tempos da imprevisibilidade: “The Age Of Unreason, when the future, in so many areas, is there to be shaped by us and for us, a time for thinking the unlikely and doing the unreasonable”.
Steve Pinker, descreve o progresso da seguinte forma: “a longevidade, a saúde e o conhecimento têm aumentado mesmo em períodos e lugares onde não se verificou um enriquecimento. O facto de todos os aspetos do florescimento humano tenderem a melhorar a longo prazo, mesmo quando não estão perfeitamente harmonizados, sustenta a ideia de que realmente existe essa coisa chamada progresso”.
Infere-se assim, que vivemos tempos onde a aplicação do conhecimento passado no controlo dos resultados futuros é uma fórmula exausta que já não funciona, pelo que não vale a pena insistir no discurso de que a escola pública, as empresas e as famílias facilitam a vida dos alunos, porque a evidência da vivência e das estatísticas dos números provam o contrário.
Se os resultados dos testes TIMSS e PISA mostram uma queda do saber dos alunos, não é porque os alunos falharam, é porque não foram ouvidos e ouvir não é fazer o que o aluno quer é ir ao conhecer dos alunos e observar que têm sido desconsiderados. Aqui tenho de introduzir a pedagogia visionária do Professor Agostinho da Silva no mais elevado reconhecimento de que foi o único português a conseguir ver e sentir a saudade de um futuro do sistema de educação que se tem de fazer presente:
"É além de tudo essencial que a escola se não separe do mundo; não há escolas e oficinas; há um certo género de oficinas em que trabalham crianças nas tarefas que lhes são adequadas e lhes vão facilitando o desenvolvimento do corpo e do espírito; vão colaborando no que podem e no que sabem para que a vida melhore. Ninguém fugirá da escola e a olhará como um horror no dia em que a deixemos de conceber como o lugar a que se vai para receber uma lição, para a considerarmos como o ponto de condições óptimas para que uma criança efectivamente dê a sua ajuda a todos os que estão procurando libertar a condição humana do que nela há de primitivo; não se veja no aluno o ser inferior e não preparado a que se põe tutor e forte adubo; isso é o diálogo entre o jardineiro e o feijão; outra ideia havemos de fazer das possibilidades do homem e do arranjo da vida; que a criança se não deixe nunca de ver como elemento activo na máquina do mundo e de reconhecer que a comunidade está aproveitando o seu trabalho; de número na classe e de fixador de noções temos de a passar a cidadão. O grande educador não pensa na escola pela escola, como o grande artista não aceita a arte pela arte; é incapaz de se encerrar na relativa estreiteza de uma vida de ensino; a escola, de tudo o que lhe oferecia o universo, é apenas o ponto a que dedicou maior interesse; mas é-lhe impossível furtar-se a mais larga actividade. De outro modo: trabalha com ideias gerais; não dirá que esta escola é o seu mundo, mas que esta escola é parte indispensável do seu mundo. E quererá também que toda a oficina passe a ser uma escola; que haja o trabalho proporcionado e alegre, amorosamente feito, porque se sabe necessário ao progresso, levado a cabo numa atitude de artista e de voluntário, disciplinado remador na jangada comum; que se não esmaguem as faculdades superiores do operário sob o peso e a monotonia de tarefas sem interesse e sem vida; que se faça a clara distinção entre o homem e a máquina; que, finalmente, se ajude o trabalhador a encontrar na sua ocupação, em todas as ideias que a cercam e a condicionam ou que ela própria provoca, o Bem Supremo da sua vida e da vida dos outros."
[pausa para sentir que a transformação do sistema de educação vai acontecer porque a Saudade do Professor Agostinho da Silva já nos mostrou o como vai ser educação ] [pausa para dançar]